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BLOG – Princípios de uma boa sutura veterinária

9 de fevereiro de 2023

Por Claudia Inglez

Mesmo que não atuemos diretamente na área de cirurgia, o conhecimento das principais técnicas e materiais utilizados em casos de sutura veterinária é essencial para quem trabalha com atendimento de pequenos animais.

Além da oclusão de feridas e união de tecidos para que ocorra a cicatrização, as suturas também são empregadas em hemostasia (ligaduras de vasos sanguíneos) e fixação de drenos, sondas e tubos.

Utilizar técnicas e materiais adequados previnem a ocorrência de complicações como infecções, necroses, deiscências ou solturas precoces da sutura.

Assim, deve-se considerar algumas questões fundamentais para execução de boas suturas:

  • Características da ferida: tempo de acometimento, presença de infecção e/ou tecidos desvitalizados, presença de corpos estranhos, tensão dos bordos, estado geral do paciente e período previsto para cicatrização são fatores que vão influenciar a sutura a ser empregada.
  • Tipos de materiais para sutura: um fio de sutura não deve ser reativo aos tecidos, deve ter resistência, mas ser de fácil manuseio, ter boa segurança dos nós, inibir crescimento bacteriano e ser econômico.

É muito importante conhecer o período de perda de tensão de cada fio, ou seja, em quanto tempo o fio “afrouxa”, o que deve ocorrer após a cicatrização dos tecidos.

Tipos de fios de sutura

Assim, os fios de sutura podem ser:

  • Absorvíveis ou inabsorvíveis – fios absorvíveis sofrerão processo de hidrólise ou fagocitose. Já os fios inabsorvíveis permanecem nos tecidos por longos períodos.
  • Monofilamentares / multifilamentares – refere-se ao número de filamentos que são torcidos juntos para formar um único fio.

Os materiais multifilamentares podem albergar bactérias entre seus filamentos, mas são mais resistentes, mais flexíveis e possuem maior segurança do nó em comparação aos fios monofilamentares.

  • Sintético/natural – os materiais naturais tendem a causar maior reação tecidual e possuem menor segurança dos nós.

Fios de sutura mais comuns

Alguns exemplos de fios de sutura comumente empregados são:

Ácido poliglicólico (Dexon®): fio absorvível multifilamentar sintético. Absorção em 60-90 dias, perda de 50% da força tênsil em 14-21 dias. Fácil de manusear, boa segurança do nó e causa leve reatividade tecidual.

Poliglactina 910 (Vicryl®): fio absorvível multifilamentar sintético. Absorção em 60-70 dias, perda de 50% da força tênsil em 14-21 dias. Fácil manuseio, boa segurança do nó e causa leve reatividade tecidual.

Ambos podem ser utilizados em ligaduras de vasos e aproximação de tecido celular subcutâneo. Existem algumas opções de revestimentos desses fios com agentes antibacterianos.

Poligliconato (Maxon®): fio absorvível monofilamentar sintético. Absorção em 90 dias. Perda de 50% da força tênsil em 14 dias. Boas características de manuseio, boa segurança do nó e reatividade tecidual mínima.

Boa opção para fáscias, parede abdominal e tecidos com cicatrização mais lenta.

Poliglecaprone (Monocryl®, Carprofyl®): fio absorvível monofilamentar sintético. Absorção em 90-120 dias. Perda de 50% da força tênsil em 7 dias.

Possui boas características de manuseio, boa segurança do nó e reatividade tecidual mínima, sendo boa opção para tecidos de cicatrização rápida, como mucosa oral e faríngea, tecido subcutâneo, bexiga, e para sutura intradérmica.

Não é a melhor opção para tecidos que levam mais tempo para recuperar a resistência à tração, como fáscia e tendões.

Polidioxanona (PDS®): fio absorvível monofilamentar sintético. Absorção em 180 dias, perda de 50% da força tênsil em 35-40 dias. Fácil manuseio, boa segurança do nó e reatividade tecidual mínima.

Boa opção para fáscias, parede abdominal e tecidos com cicatrização mais lenta.

Poliamida (Nylon): fio inabsorvível, mono ou multifilamentar, sintético. Perda da força tênsil em 80 dias. Trata-se de um fio inerte, de baixa reação tecidual, mas preferencialmente indicado para suturas externas.

Polipropileno (Prolene®): Fio inabsorvível monofilamentar sintético. Mantém força tênsil por período indefinido. Pode ser usado em procedimentos cardiovasculares, oftálmicos e neurológicos.

Poliester (Ethibond®): fio inabsorvível multifilamentar sintético. Mantém força tênsil por período indefinido. Utilizado em tecidos moles de modo geral, e em procedimentos cardiovasculares, oftálmicos e neurológicos.

Algodão, linho e seda: fios inabsorvíveis multifilamentares orgânicos, ou seja, de fibras naturais. Perda de 50% da força tênsil em 6 meses. Podem ser utilizados em suturas veterinárias cutâneas, (desde que livre de infecção), vasculares, oftálmicas.

Fio de aço (Aciflex®): fio inabsorvível monofilamentar sintético. Mantém força tênsil por período indefinido. Usado principalmente em procedimentos ortopédicos.

E caso precise, você pode consultar nosso guia resumido dos tipos de fio de sutura.

O tamanho do fio de sutura

Deve ser guiado pela resistência do tecido a ser reparado. Como regra geral, deve-se usar a sutura de menor diâmetro que irá segurar adequadamente o tecido a ser suturado.

Fios muito espessos geram mais trauma e ação como corpo estranho.  A espessura dos fios é reconhecida pelo sistema USP (United State Pharmacopeia), escalonado desde 11-0 (mais fino) até 7 (mais grosso):

11-0     10-0     9-0     8-0     7-0    6-0     5-0     4-0    3-0     2-0      0       1       2       3       4       5       6       7

mais fino       ___________________________________________________ mais grosso

Espessura

Agulha cirúrgica apropriada

Agulhas retas são usadas em feridas mais superficiais, assim como as agulhas 3/8 e 1/4 circulares.

Estruturas mais profundas podem ser mais facilmente suturadas com agulhas circulares 5/8 ou ½. A ponta da agulha é selecionada de acordo com o tipo de tecido a ser suturado.

Agulhas de corte são usadas para tecidos mais duros, como a pele. Para tecidos mais delicados (como intestinos) são indicadas agulhas redondas e ponta afiada.

As agulhas de ponta romba com corpo arredondado são mais indicadas para estruturas friáveis, como fígado ou baço.

Padrão de sutura indicado para cada localização e função

Entre as diferenças dos tipos de sutura, está também o modo como cada uma é confeccionada. Havendo variações entre os padrões. Analisamos cada uma delas logo abaixo.

Interrompidas

confecção mais lenta, maior gasto de material, maior efeito de corpo estranho, melhor para incisões não lineares. Alguns exemplos de padrões de suturas interrompidas são:

  • Ponto simples separado (PSS) – efeito de aposição. Pode ser utilizado em pele, subcutâneo, parede abdominal e intestino.
  • Wolff/colchoeiro interrompido ou U horizontal – efeito de eversão. Utilizado em pele.
  • Sultan ou “X- efeito de aposição, maior resistência em tecidos sob maior tensão. Pode ser utilizado em pele, aponeuroses ou abdômen em que não se deseja utilizar padrão contínuo.
  • Swift-intradérmico interrompido ou PSS invertido: Utilizado nas suturas de subcutâneo, permanecendo o nó sepultado.

Suturas contínuas

São de confecção mais rápida, mais fácil remoção, mais econômicas, causam menor reação inflamatória (menor manipulação de tecido, menos material estranho), distribuem melhor a tensão e fazem menos isquemia.

Possuem a desvantagem de segurança (deiscência de um segmento compromete toda a sutura). São indicadas para sutura de grandes vasos (aorta, veia cava), pulmão, intestino e fechamento da cavidade abdominal.

Alguns exemplos de padrão de sutura contínua são:

  • Ponto simples contínuo: efeito de aposição. Indicada no fechamento da parede abdominal e aproximação de tecido celular subcutâneo.
  • Contínua intradérmica: utilizada na aproximação da derme.
  • Cushing: efeito invaginante, utilizada em órgãos ocos (estômago, bexiga, útero),

Assim, para evitar as desagradáveis complicações após a realização de suturas deve-se ter conhecimento tanto da característica do tecido a ser suturado, a finalidade da sutura, o tipo de material indicado e o padrão de sutura apropriado para cada situação.

Lembrando de avaliar o tempo esperado de cicatrização e perda da força tênsil do material.

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Se quiser saber mais sobre esse tema, leia mais acessando esses links:

https://vetsapiens.com/artigos/principios-basicos-em-cirurgia-fios-de-sutura

https://vetsapiens.com/artigos/the-ultimate-aberdeen-knot

https://vetsapiens.com/artigos/tensioning-sutures-for-open-wounds

 

 

 

 

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