Pirarucu que vive na praça da República passa por avaliação veterinária
Por Andrey Araújo 04/04/2020
Quem visita a praça da República, fundada e urbanizada em 1878, se encanta com a beleza do espaço. Entre as históricas esculturas, os belos coretos e as frondosas árvores, existe uma moradora da praça que também chama atenção: um pirarucu fêmea que vive há cerca de três anos em um dos lagos da praça.
Na manhã deste sábado, 4, o espécime foi avaliado por uma equipe da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), composta pela veterinária e o biólogo do Jardim Zoobotânico Bosque Rodrigues Alves. Para a garantia do bem-estar e para a segurança do animal, em cerca de duas semanas ela será levada para o Bosque. A decisão foi tomada após a terceira tentativa de roubo do peixe.
O peixe chegou na praça da República ainda filhote. Hoje, medindo mais de um metro de comprimento e com o alto valor da carne no mercado, conhecida como bacalhau da Amazônia, além dos olhares de encanto atrai também pessoas que tentam capturar o animal para a venda e consumo da espécie. Durante esta semana, dois homens foram presos por agentes da Guarda Municipal de Belém após tentarem roubar o peixe, com uma rede e um arpão.
“Visualmente a saúde dela está boa, pois ela está apresentando as características normais da espécie: está levantando a cabeça para respirar, se movimentando e está interagindo com as pessoas, já que essa espécie se acostuma com a presença humana. Ela deve pesar entre 30 e 40 quilos”, explicou o biólogo Tavison Guimarães. “A previsão é que em mais ou menos duas semanas ela seja retirada daqui. Vai depender de como estará o funcionamento dos órgãos por conta da pandemia. Nós também vamos precisar fazer a adequação do recinto dela no Bosque”, disse a veterinária Ellen Eguchi.
Transporte – Além disso, os profissionais tomarão todos os cuidados necessários para o transporte do animal, para que o peixe chegue com saúde e segurança no novo lar. “Vamos minimizar o máximo o estresse dela, vamos trazer um recipiente grande para levar ela o mais à vontade e o mais brevemente possível. Precisaremos de uma grande equipe para levá-la”, completou Ellen.
Ellen do Amaral é cuidadora de animais, vai todos os dias à praça e aproveita para visitar o peixe. “Eu fico feliz em saber que ela vai viver com mais segurança e triste em perceber que a população não está preparada para ter um animal desse porte aqui. Eles jogam todo tipo de alimento para ela: pipoca, biscoito, salgadinho… e fico mais triste ainda em saber da tentativa de roubo do animal. Foi uma indecência enorme ver trazerem uma rede e um arpão para tentar roubar ela”.
O pirarucu é um dos maiores peixes de águas doces fluviais e lacustres do Brasil. Pode atingir três metros e seu peso pode ir até 200 quilos. É um peixe que é encontrado geralmente na Bacia Amazônica. Seu nome se originou de dois termos tupis: pirá, “peixe”, e urucum, “vermelho”, devido à cor da cauda.
Conscientização – A alimentação do animal preocupa a veterinária Ellen Eguchi, que ressalta o quanto é importante a consciência da população para manter o animal saudável. “As pessoas não conhecem os hábitos alimentares dos peixes da Amazônia, principalmente do pirarucu. Elas acham que faz parte da dieta dele e dão bolacha, biscoito, mas não faz. Ele é um peixe carnívoro, é muito prejudicial para ele”.
Uma característica do peixe também faz com que os cuidados dos profissionais sejam redobrados durante o transporte. “Precisamos ter todos os cuidados com a logística da distância, pois devido uma característica peculiar, esse peixe pode morrer afogado, já que 80% da respiração dessa espécie é atmosférica, ele levanta a cabeça para respirar”, contou Tavison.
Atração – Abílio Mendes, de 72 anos, vai à praça todos os domingos. Ele conta da alegria da criançada ao ver o peixe. “Fico muito triste em saber que ela vai embora, pois é a alegria das crianças, elas adoram esse peixe. Essa já é a terceira tentativa de roubo do pirarucu, e a Guarda Municipal sempre está aqui é impede”, disse o aposentado.