BLOG – Persistência de fontanelas em Chihuahuas
Um primeiro estudo publicado em maio de 2021, intitulado “Persistent fontanelles in Chihuahuas. Part I. Distribution and clinical relevance” pelos pesquisadores Anna-Mariam Kiviranta, Clare Rusbridge, Anu K. Lappalainen, Jouni J. T. Junnila,Tarja S. Jokinen demosntrou que muitos cães desta raça apresentam fontanelas persistentes, que aparecem nas superfícies craniais dorsal, lateral e caudal. Essas fontanelas são mais numerosas e maiores em Chihuahuas com sinais clínicos relacionados a malformação Chiari-like (CM) e a siringomielia (SM).
Cães da raça Chihuahua são conhecidos pela frequente ocorrência de uma fontanela bregmática no dorso do crânio. Acredita-se que esse defeito craniano é um achado clinicamente irrelevante. Nenhum estudo anterior, no entanto, descreveu sua prevalência ou descobri a existência de outras fontanelas persistentes (FPs). Embora os Chihuahuas sejam predispostos à malformação Chiari-like (MC) e à siringomielia (SM), não se sabe se as FPs ocorrem mais comumente em cães com sinais clínicos causados por estas afecções – MC ou SM.
O estudo teve como objetivo, descrever o número e localização das FPs nas suturas cranianas (SCs) e comparar a ocorrência dessas FPs em cães, com e sem sinais clínicos, relacionados as alterações MC ou SM. A hipótese inicial dos pesquisadores era de que as fontanelas persistentes também ocorriam nas superfícies craniais laterais e caudais, afetando um número maior de cães e eram mais prevalentes e maiores em cães com sinais clínicos relacionados a CM/SM.
Neste primeiro estudo, 50 Chihuahuas de tutores, com ou sem sinais clínicos relacionados a MC/SM foram avaliados.
Resultados
Dos 50 cães avaliados, 46 (92%) apresentaram 1 ou vários FPs. A média ± SD do número de FPs foi de 2,8 ± 3,0 (variação, 0-13). Um total de 138 FPs ocupou 118 SCs com 57 (48%) localizados dorsalmente, 44 (37%) caudalmente e 17 (14%) lateralmente. O número de cães afetados por FPs foi significativamente maior (P ≤ .001) e a área total das FPs foi significativamente maior (P = .003) em cães com sinais clínicos relacionados a CM/SM.
Conclusões e Importância Clínica
Fontanelas persistentes são muito comuns neste grupo de cães da raça Chihuahua e aparecem nas superfícies craniais dorsal, lateral e caudal. Eles são mais numerosas e maiores em Chihuahuas com sinais clínicos relacionados a CM/SM.
Em um segundo estudo publicado pelos mesmo autores , intitulado “Persistent fontanelles in Chihuahuas. Part II: Association with craniocervical junction abnormalities, syringomyelia, and ventricular volume” os autores queriam provar a hipotese de que as fontanelas persistentes estudadas no 1o estudo eram mais numerosas e maiores em Chihuahuas com baixo peso corporal, com idade avançada, com siringomielia (SM), com o quarto ventrículo dilatado, ventriculomegalia e problemas na junção craniocervical (CCJ),
Foram avaliados neste 2o estudo 50 chihuahuas de tutores, e foram feitas avaliações da associação do número de suturas cranianas acometidas por FPs (NAS) e da área total da fontanela (ATF), baseado em tomografia computadorizada de animais com MS, dilatação do quarto ventrículo, volume do ventrículo lateral e extensão da compressão do tecido neural com base em imagens de ressonância magnética.
Resultados
O NASs foi maior e TFA maior em cães com baixo peso corporal (NAS: P = 0,007; intervalo de confiança de 95% [CI] = 0,384-0,861; TFA: P = 0,002; IC 95% = -1,91 a -0,478) , ventrículos laterais maiores (NAS: P ≤ .001; IC 95% = 1,04-1,15; TFA: P ≤ .001; IC 95% = 0,099-0,363) e compressão do tecido neural mais grave no CCJ (NAS: P ≤ 0,001; IC 95% = 1,26-2,06; TFA: P = 0,03; IC 95% = 0,066-1,13). Da mesma forma, cães com SM (NAS: P = 0,004; IC 95% = 1,26-3,32; TFA: média ± SD, 130 ± 217 mm2; P = 0,05) tiveram maior NAS e maior TFA do que cães sem SM (43,7 ± 61,0 mm2). A idade não foi associada com NAS (P = 0,81; IC 95% = 0,989-1,01) ou TFA (P = 0,33; IC 95% = -0,269 a 0,092).
E as hipóteses foram confirmadas, concluindo que as fontanelas persistentes estão associadas ao tamanho pequeno, a SM, ventriculomegalia e problemas na CCJ.
Figura 1 – Imagem de tomografia computadorizada com técnica de renderização de volume, de um crânio de Chihuahua em vista lateral esquerda, mostrando 2 fontanelas persistentes bem demarcadas na sutura frontoparietal esquerda e na interseção dos ossos frontal esquerdo, esfenóide e parietal, portanto em uma localização semelhante à a de uma fontanela esfenoidal em crianças
Estes dois trabalhos corroboram a hipótese de que as seleções artificiais para que os Chihuahuas fiquem cada vez menores, com menos de 1,5 KG esta mais associada a FPs, que são mais numerosas e maiores nesses animais, e indicam que os fatores genéticos responsáveis por seu tamanho extremamente pequeno, também podem estar associados aos problemas de crescimento e ossificação do crânio.