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BLOG – Fluidoterapia na clínica de pequenos animais

6 de janeiro de 2023

A fluidoterapia é uma das principais e mais importantes ferramentas  terapêuticas disponíveis em clínicas para cães e gatos para diminuir a mortalidade e os danos teciduais.

Ela tem como objetivos: 

  • Correção de distúrbios hidreletrolíticos e  acidobásicos
  • Restauração da volemia 
  • Manutenção da homeostase 

Importante ressaltar que para a instituição da fluidoterapia a avaliação do histórico do paciente através da anamnese, os achados ao exame físico e ainda, resultados de exames complementares, determinarão a necessidade da mesma. 

Sendo que a terapia deve ser individualizada e reavaliada e, possivelmente, reformulada de acordo com as mudanças do estado de cada paciente.   

A escolha do tipo de fluido, volume a ser infundido, via de administração e velocidade de infusão, deve ser baseada no estado e necessidades do paciente, condições de base, curso da doença (se aguda ou crônica), alterações ácido-básicas e hidroeletrolítica, nas pressões oncóticas e hidrostáticas e em possíveis comorbidades.

Todos os pacientes devem ser avaliados quanto a três tipos de distúrbios de fluidos: alterações no volume, alterações no conteúdo e/ou alterações na distribuição.

Uma vez que uma expansão volêmica desnecessária pode acarretar em congestão sistêmica e/ou pulmonar, muitas vezes piorando a condição do paciente.

Principais indicações para fluidoterapia

Hemorragia

A reposição volêmica adequada, nos casos de hemorragia, pode diminuir a mortalidade e reduzir a necessidade de transfusão sanguínea.

O Advanced Trauma Life Support, preconiza que todo paciente vítima de traumatismo, com suspeita de hemorragia e hipotensão, seja tratado com infusão de líquidos isotônicos antes de um possível procedimento cirúrgico.

Hipovolemia

Pode provocar graves alterações hemodinâmicas, sendo assim, é  uma das principais indicações de reposição de fluido. As principais causas são perdas gastrointestinais, hemorragia, perda urinária através de poliúria e vasodilatação. 

Desidratação

É a perda de líquido intravascular e intersticial e é reconhecida, clinicamente, pela perda de elasticidade cutânea (perda do turgor cutâneo), enoftalmia, ressecamento de mucosas e perda de peso corporal.

As principais condições que levam à desidratação são: diarreia, êmese, traumatismo, sudorese excessiva, obstrução do trato gastrintestinal, peritonite, pleurite, pancreatite e poliúria. 

Porcentagem (%) de desidratação e achados ao exame físico

 

Desidratação Alterações ao exame físico
Discreta (5%) Discreta diminuição do turgor cutâneo. Ausência de enoftlamia  e mucosas pouco ressecadas
Moderada (8%) Perda moderada do turgor cutâneo, mucosas ressecadas, enoftalmia, pulso rápido e fraco
Intensa ou grave (> 10%) Grande perda de turgor de pele, enoftalmia acentuada, mucosas secas, hipotensão, alteração no nível de consciência, pulso filiforme e taquicardia.

Modificada de Davis H et al

A desidratação pode ser classificada, de acordo com a osmolaridade do líquido corporal remanescente em: hipotônica, isotônica ou hipertônica. 

A desidratação isotônica ocorre quando há perda de água e eletrólitos na mesma proporção.

Quando as perdas de eletrólitos superam a perda de líquidos existe a desidratação hipotônica, e essa condição está associada à diarreia secretória profusa e/ ou a vômitos.

Já quando a água é perdida em maior proporção que os eletrólitos, a desidratação é considerada hipertônica.

O cálculo do volume de reposição se dá pela seguinte fórmula:

Peso corporal (kg) × % de desidratação × 10 = volume (mℓ) para correção

Tipos de fluido

São classificados em colóides ou cristalóides:

Colóides

Os coloides podem conter produtos, por exemplo, amidos, dextranos ou gelatinas ou substâncias naturais, por exemplo, albumina ou plasma fresco congelado- PFC, com capacidade de atrair líquidos para o espaço intravascular, restaurando a volemia.

Os coloides têm água e moléculas maiores e um custo mais elevado comparativamente aos cristaloides

Tipos de soluções coloides:

  • Albumina 20%;
  • Hidroxietilamido (Voluven®6%): soluções sintéticas coloidais modificadas a partir da amilopectina;
  • Gelatinas: produzidas a partir de colágeno hidrolizado de bovinos, com efeito expansor entre 4 e 6 horas. Existem diferentes preparações e diferentes concentrações de eletrólitos;
  • Dextran:  polímeros de glicose produzidos a partir de bactérias cultivadas em meio de sacarose.

Cristalóides

Têm água e pequenas moléculas (solutos com eletrólitos e sem eletrólitos) que podem se deslocar facilmente quando introduzidas no corpo, atuando principalmente nos compartimentos intersticiais e intracelulares.

Cristalóides isotônicos, por exemplo, NacL 0,9% e Solução de Ringer Lactato, são muito usados na medicina veterinária, têm osmolaridade semelhante ao plasma.

Cristalóides hipertônicos e hipotônicos tem maior e menor osmaloaridade, respectivamente, comparativamente ao plasma. 

Tipos de soluções cristaloides

  • Solução fisiológica de cloreto de sódio a 0,9%;
  • Ringer com Lactato;
  • Ringer Simples;
  • Solução Glicosada a 5%.

 

Parâmetros empíricos para eleição de fluido

 

Condição Tipo de desidratação provável Possíveis anormalidades Tipo de Fluido
Diarréia isotônica/hipertônica hiponatremia? acidose? Ringer Lactato 

NaCl 0,9%

Vomito (intestinal) isotônica /hipertônica hipocalemia/acidose Ringer Lactato 

NaCl 0,9%

Vomito (estomacal) isotônica /hipertônica Hipocalemia

hipocloremia/alcalose

NaCl 0,9%
Insuficiência Renal Isotônica

Hipetônica (vômito)

acidose Ringer Lactato 

NaCl 0,9%

Insuficiência Hepática isotônica /hipetônica hipocalemia ? Glicofisiológica 

NaCl 0,9%

Obstrução Uretal isotônica /hipetônica hipercalemia/acidose NaCl 0,9%
Diabetes Mellitus hipertônica acidose, hipocalemia hipofosfatemia Ringer Lactato 

NaCl 0,9% (choque)

Choque hipovolêmico isotônica acidose lática NaCl 0,9%
Anorexia isotônica hipocalemia ? Ringer Lactato 

NaCl 0,9%

 

Vias de administração de fluidos

As vias de administração de fluido são:

  • Via Intravenosa – é a mais utilizada e indicada para animais em  desidratação grave, situações emergenciais, permite rápida expansão de volume
  • Intra-óssea – excelente alternativa à intravenosa em pacientes pequenos, filhotes, com colapso de veias (muito desidratados). Considera-se que os fluidos administrados intra-ósseo caem diretamente na corrente sanguínea 
  • Subcutânea – prática e barata. Não tem indicação de uso em animais com vasoconstrição periférica e muito desidratados, hipotensos e hipotérmicos
  • Oral – é a mais fisiológica e deve ser empregada em pacientes sem vômito, mesmo naqueles que estão recebendo fluído por outras vias. Qualquer tipo de fluido pode ser empregado. Não deve ser a única via em pacientes muito desidratados

E para saber mais sobre a Fluidoterapia para pequenos animais ou outros tipos de tratamentos, é só se cadastrar na Vetsapiens.

 

Bibliografia:

Davis H, Jensen T, Johnson A, Knowles P, Meyer R, Rucinsky R et al. 2013 AAHA/AAFP fluid therapy guidelines for dogs and cats. Journal of the American Animal Hospital Association. 2013; 49(3):149-59. Epub 2013/05/07.

Glaser NS, Ghetti S, Casper TC, Dean JM, Kuppermann N. Pediatric diabetic ketoacidosis, fluid therapy, and cerebral injury: the design of a factorial randomized controlled trial. Pediatric Diabetes. 2013; 14(6):435-46. Epub 2013/03/16.

Matsuda Y, Sakurai T, Iino M, Nakayama K. Comparative study on the effects of acetated Ringer’s solution, lactated Ringer’s solution, Ringer’s solution, and 5% glucose–acetated Ringer’s solution on canine hemorrhagic shock. Journal of Anesthesia. 1994; 8(3):326-33. Epub 1994/09/01

Vassar MJ, Fischer RP, O’Brien PE, Bachulis BL, Chambers JA, Hoyt DB et al. A multicenter trial for resuscitation of injured patients with 7.5% sodium chloride. The effect of added dextrana 70. The Multicenter Group for the Study of Hypertonic Saline in Trauma Patients. Arch Surg. 1993; 128(9):1003-11; discussion 11-3. Epub 1993/09/01.

Sumpelmann R, Witt L, Brutt M, Osterkorn D, Koppert W, Osthaus WA. Changes in acid-base, electrolyte and hemoglobina concentrations during infusion of hydroxyethyl starch 130/0.42/6: 1 in normal saline or in balanced electrolyte solution in children. Paediatric Anaesthesia. 2010; 20(1):100-4. Epub 2009/12/09.

 

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