BLOG – Complexo Granuloma Eosinofílico Felino, você sabe diagnosticar e tratar?
Por MV MSc. Rita Carmona
O termo Complexo Granuloma Eosinofílico (CGE) refere-se a um grupo de padrões lesionais inflamatórios que acometem o tecido cutâneo dos gatos em diferentes áreas.
Existem diferentes formas, dependendo do local em que ocorrem e do padrão lesional e histológico, mas a resposta inflamatória em todas elas geralmente é bastante semelhante.
Estudos demonstram que o CGE segue um “padrão de reação”, que pode potencialmente ser desencadeado por quadros alérgicos, mas podem estar relacionados a doenças infecciosas da pele, como as bacterianas e fúngicas, à presença de ectoparasitas, como pulgas e ácaros do gênero Lynxacarus sp. e mesmo em quadros idiopáticos. O prurido pode estar presente em muitos dos casos, mas não em todos e podem ser exacerbados pela lambedura.
O Complexo Granuloma Eosinofílico pode ser representado por:
- Úlcera eosinofílica ou úlcera indolente
Quadro caracterizado por lesão(ões) ulcerada(s) bem definida(s) e edemaciadas com bordos elevados que geralmente acometem os lábios superiores, podendo ser de tamanhos variados. Na grande magnitude dos casos, não há dor.
Foto 1- Uma úlcera indolente no lábio superior e granuloma eosinofílico no palato de um felino.
- Placa eosinofílica
Essas lesões podem ocorrer em qualquer parte do corpo, mas são comumente vistas na região ventral do abdômen.
Costumam aparecer como áreas bem demarcadas com alopecia, edema e hiperemia cutânea. Geralmente as lesões são muito pruriginosas e a ulceração é bem comum.
Foto 2 – Placa eosinofílica extensa na região abdominal de um felino.
- Granuloma eosinofílico
Essas lesões podem ocorrer em qualquer parte do corpo, sendo os locais mais comuns; a mucosa oral (no lábio, na língua ou no palato), nos membros pélvicos e nos coxins plantares e ou palmares.
A aparência da lesão é variável, mas geralmente há uma área nodular ou linear elevada e espessa que pode ficar hiperêmica. Alopecia e ulceração são achados comuns, embora o prurido possa ser mais variável.
Quando acomete a face caudal de membros pélvicos, assume uma configuração linear, recebendo a denominação de granuloma eosinofílico linear.
Foto 3 – Granuloma em articulação tíbio-társica de um felino
Diagnóstico do Complexo Granuloma Eosinofílico
O diagnóstico geralmente envolve anamnese e um exame físico completo, com caracterização dos padrões lesionais dermatológicos envolvidos.
Deve-se descartar a presença de ectoparasitas e ainda a presença de possíveis infecções bacterianas e/ou fúngicas.
Como diagnóstico diferencial, devem ser incluídos: infecções fúngicas profundas, bacterianas ou até mesmo as virais, queimaduras, abscessos e neoplasias.
Para a confirmação do diagnóstico e para afastar outras causas, é necessário o exame citológico (por AAF) ou histopatológico (por biopsia cutânea) dos tecidos afetados.
Prováveis causas do CGE
Quando uma lesão CGE é diagnosticada, é importante procurar possíveis causas subjacentes, especialmente potenciais alergias – quadros de DAPP, alergia a picada de mosquito, alergia alimentar e a síndrome atópica cutânea felina.
Essas investigações podem incluir a resposta a tratamentos (diagnósticos terapêuticos) e até os testes alérgicos.
Diagnósticos terapêuticos com eliminação de ectoparasitas ou com dietas de exclusão, podem levar tempo (entre 6-8 semanas), mas são importantes e valem a pena para evitar o uso prolongado e desnecessário de tratamentos paliativos, como esteróides, que podem ter efeitos colaterais a médio e longo prazo.
Alguns casos de CGE podem estar associados à atopia (reação a alérgenos ambientais ou inalados), e estes podem ser mais difíceis de investigar e de controlar, necessitando, em muitos dos casos, o uso de medicamentos sistêmicos e/ou tópicos.
Tratamento das lesões
É muito comum haver infecção bacteriana secundária, portanto, na maioria dos casos, o uso antibióticos pode produzir uma melhora, embora não resolva a lesão por completo.
O tratamento depende da extensão das úlceras, e da causa subjacente da reação. Se nenhuma causa subjacente for diagnosticada, ou se uma causa subjacente for identificada, mas não puder ser controlada, pode ser necessário o tratamento sintomático das lesões até o controle da causa.
Glicocorticóides são as indicações terapêuticas mais comuns para controlar o prurido e tratar as lesões. Mas a duração e a dose de esteróides necessárias variam entre os pacientes.
O uso inicial da prednisolona, em doses que podem variar, é indicado, contudo quando em algumas vezes existe baixa resposta ao uso desse fármaco, podendo ser necessário a substituição por corticoides mais potentes como a dexametasona ou triancinolona, tomando-se cuidados com potenciais efeitos colaterais maiores desses fármacos.
Terapias adicionais ou alternativas também podem ser praticadas para ajudar a reduzir o uso e as doses dos esteroides, como:
- Fármacos imunossupressoras (Ex: ciclosporina ou clorambucil)
- Esteroides tópicos (Ex:spray de hidrocortisona)
- Fototerapia
Quando parar o tratamento?
A evolução do quadro deve ser avaliada pelo médico veterinário quanto à remissão completa ou parcial do quadro sintomato-lesional e potenciais efeitos adversos dos fármacos utilizados para o tratamento.
Como já referido, é de extrema necessidade a investigação e controle, quando possível da causa de base.
Em muitos dos casos existe a necessidade de controle para o resto da vida, ponderando benefícios e possíveis efeitos adversos.
Recomendações finais
O Complexo Granuloma Esosinofílico não é uma doença e sim um padrão lesional que é secundário a algumas condições como: doenças parasitárias, doenças bacterianas, doenças fúngicas, mas as alergopatias são as principais envolvidas. Ainda existem casos idiopáticos pois a exata fisiopatogenia do CGE ainda não está totalmente elucidada.
O diagnóstico baseia-se no reconhecimento do quadro lesional, da exclusão de outras enfermidades, mas a confirmação deve ser realizada através de exames citológicos e/ou histopatológicos
O tratamento é, geralmente, realizado com uso de fármacos imunossupressores por longos períodos e em alguns casos, para o resto da vida.
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