BLOG – Dermatite Esfoliativa Felina
Por MV MSc Rita Carmona
A dermatite esfoliativa felina é uma síndrome paraneoplásica, na grande parte das vezes associada a timoma. Contudo existem pacientes que desenvolveram dermatite esfoliativa, mas não foi possível a identificação de timoma.
Acomete preferencialmente gatos adultos a idosos, média de oito anos de idade. Não existe predisposição racial ou por sexo. A etiopatogenia ainda não foi totalmente elucidada, contudo parece estar relacionada uma perda de tolerância imunológica mediada pelo timo. Estudos demonstraram a presença de Linfócitos T CD3+ na epiderme nos pacientes acometidos. Ainda, alguns pacientes desenvolveram miastenia gravis e miosite o que apoiaria essa hipótese.
Clinicamente é caracterizada por eritema, esfoliação com a formação de escamas micáceas esbranquiçadas aderidas à pele, que quando despreendidas, originam lesões erodo-ulcerativas.
Localizam-se principalmente na região cefálica e de pavilhões auriculares, podendo generalizar-se.
O prurido geralmente está ausente, exceto nos casos em que há infecção secundária.
O diagnóstico é baseado na história, exame clínico e dermatológico e no exame histológico, que mostra uma dermatite de interface com significativa e extensa hiperqueratose. Degeneração hidrópica e apoptose dos queratinócitos do
observam-se também a camada basal da epiderme superficial e do infundíbulo. As glândulas sebáceas estão frequentemente envolvidas e às vezes completamente destruídas. No entando, a diferenciação da dermatite esfoliativa felina de eritema multiforme pode ser difícil apenas com a histopatologia.
A terapia da dermatite esfoliativa felina associada ao timoma baseia-se na remoção da formação, com resolução da dermatite, porém existe alta taxa de recidiva. Em casos onde não há timoma, a terapia é baseada na administração de drogas imunossupressoras, como esteroides e/ou ciclosporina.
Felino, SRD, macho de seis anos de idade, atendido em serviço especializado de dermatologia por apresentar quadro tegumentar representado por hipotricose, formação de densas escamas branquacentas aderidas à região cefálica, de pavilhões auriculares e abdominal. Foi submetido à biópsia para exame histopatológico que sugeria dermatite esfoliativa.
Fig 1. Presença de lesões hiperqueratóticas e densas escamas aderidas à região cefálica
Foram realizados RX de tórax sem a evidenciação de formação que pudesse sugerir timoma.
O paciente foi tratado com prednisolona na dose de 2mg/kg a cada 24 horas, com remissão total do quadro tegumentar.
No caso acima disposto, não foi possível a identificação da causa.
Caso 2. Felino, SRD, macho de um ano de idade, atendido em serviço especializado em dermatologia, com quadro tegumentar representado por lesões eritemato-descamativas em região cefálica e lesões arciformes eritematosas em membros.
Foi submetido ao exame histopatológico de fragmentos cutâneos retirados através de biópsia por punch. Ao exame histopatológico sugeriu-se os diagnósticos de eritema multiforme ou dermatite esfoliativo.
Foram realizados exames radiográficos de tórax com evidenciação de massa em região torácica. Confirmado o diagnóstico de timoma, através de citologia do material.
Na ocasião, a tutora não optou pela excisão cirúrgica do tumor. Então, foi medicado com Prednisolona e Clorambucil com melhora acentuada do quadro e posterior recidiva. Na ocasião apresentava nítida deterioração do estado geral e então foi submetido à eutanásia.
Fig 2. Quadro de alopecia, eritema e escamas aderidas à região cefálica
Fig 3. Alopecia, crostas melicéricas e lesões eritematosas arciformes em membros
Fig. 4 Presença de massa em região torácica, sugestiva de timoma, ao exame radiográfico.
Considerações finais
A dermatite esfoliativa felina é uma síndrome paraneoplásica que na maioria dos casos está associada a presença de timoma. A patogenia não está totalmente elucidada, mas acredita-se que fatores imunológicos estejam associados. O diagnóstico se dá pelas alterações dermatológicas, mas a histopatologia da pele deve ser realizada. O tratamento baseia-se no uso de imunossupressores e na excisão cirúrgica do tumor. A recidiva é frequente, mesmo após a realização da intervenção cirúrgica. Ainda, devemos estar atentos aos quadros sem associação de timoma, ditos idiopáticos.