BLOG – O que há de mais moderno na Anestesiologia Veterinária
Por Sandra Mastrocinque
A Anestesiologia Veterinária tem evoluído sobremaneira e o anestesista atualizado deve compreender e seguir conhecimentos adquiridos com reciclagem, e melhora constante de habilidades, além de estar munido de equipamentos disponíveis para que os procedimentos possam ser executados com a maior eficácia, alta segurança e conforto ao paciente.
Os tutores têm, de maneira geral, grande receio da anestesia veterinária, e por tal e por muitos outros motivos não há mais espaço para que se realize um procedimento anestésico-cirúrgico sem explorar e empregar o que há de mais moderno na área em tela.
Não há o que temer, mesmo em situações mais complexas, se o profissional estiver preparado e equipado com monitores e técnicas atuais.
São muitos os fármacos, equipamentos e protocolos que podem ser empregados, permitindo realizar procedimentos anestésicos para cirurgias de alta complexidade e em pacientes com comorbidades e/ou idade avançada.
Deve-se ressaltar inicialmente, que apesar da anestesia inalatória ser considerada muito segura, para que tal modalidade cause o menor impacto cardiovascular e respiratório, a mesma nunca deve ser feita como protocolo isolado, e sim com associação de fármacos administrados por infusão contínua, complementando a analgesia, o relaxamento muscular e ainda os bloqueios anestésicos regionais.
Essa última ferramenta tem se tornado valiosa, cercada de muitas vantagens no controle da analgesia perioperatória e diminuição da necessidade de anestésicos gerais e analgésicos sistêmicos, não isentos de efeitos adversos.
Além de bloqueios do neuroeixo (sendo a anestesia epidural a mais conhecida), os bloqueios de nervos periféricos (em membros, oftalmológicos, interfasciais, otológicos, odontológicos) são acessíveis na atualidade.
Para tanto, o estudo anatômico e associação de instrumentos que auxiliam na localização de nervos periféricos, como a ultrassonografia e neurolocalizadores tornam-se valiosos e úteis, evitando a punção inadvertida de importantes vasos e aumentando a eficácia do bloqueio.
Foto: Bloqueio do plano transverso abdominal de cadela guiado por ultrassom
TIVA
A modalidade anestésica denominada TIVA (anestesia total intravenosa) vem sendo bastante estudada, da mesma forma, porém, só pode ser feita com segurança e efetividade ao se conhecer a perfeita associação e farmacocinética de agentes hipnóticos, analgésicos e relaxantes musculares.
Além de emprego de bombas de infusão contínua, as quais permitem a administração dos vários agentes associados em doses, volumes e portanto, taxas corretas. A TIVA não exime os conhecimentos de controle das vias aéreas com entubação e assistência ventilatória.
Além dos analgésicos mais conhecidos como anti-inflamatórios e opióides, muitos outros agentes têm se mostrado alternativas mais modernas e com mínimos efeitos adversos quando empregados.
Dentre eles podemos citar os agentes adjuvantes como maropitant, gabapentinoides, cetamina em doses sub-anestésicas, e anestésicos locais em infusão contínua.
Adicionalmente e de importância crucial, a monitoração do paciente e seus parâmetros cardiorrespiratórios é mandatória em qualquer técnica escolhida, contando com monitores que avaliam parâmetros cardiovasculares como pressão arterial de modo invasivo (com canulação de artéria, e é mais fidedigno.
Principalmente em pacientes críticos) e não invasivo ( como o Doppler e oscilométrico automático), eletrocardiograma, parâmetros da mecânica ventilatória e oferta de oxigênio aos tecidos como oximetria, capnografia, analisador de gases, hemogasomentria, e temperatura corporal, além da avaliação da microcirculação que pode ter a dosagem de lactato como ferramenta auxiliar.
O anestesista moderno não pode executar seus protocolos sem ter tais monitores como aliados, uma vez que, os fármacos interferem com a dinâmica cardiovascular e respiratória de várias formas, levando a alteração da pressão arterial, ritmo cardíaco, hipoxemia, hipercapnia, hipotermia, muitas vezes.
Combinando técnicas
Realizando a anestesia de forma balanceada e monitorando a anestesia passo a passo, todos esses impactos são previstos, observados e manejados com excelência.
O treinamento e atualização sobre situações emergenciais são essenciais. Manobras de reanimação cardiorrespiratória são raramente necessárias, caso as complicações possam ser previstas e manejadas com todos os protocolos anteriormente citados.
Entretanto, o preparo da equipe anestésica para tal experiência desafiadora se faz necessária, o que pode ser auxiliada com algoritmos e carrinhos de emergência contendo fármacos e todos os aparatos a serem empregados durante as manobras.
Analgesia perioperatória
A analgesia perioperatória é da mesma forma essencial, sendo que muitas vezes, profissionais optam por anestesia mais superficial com nocicepção para não deprimir a ventilação e pressão arterial, o que sem dúvida é uma prática inaceitável.
Deve-se permitir analgesia adequada, e simultaneamente obedecer os pilares da anestesia geral adequada: inconsciência, controle de reflexos autonômicos, relaxamento muscular, analgesia e minimização de mortalidade e morbidade.
O conhecimento de técnicas de ventilação controlada é considerado importante, da mesma forma, e deve estar acompanhado de ventiladores com capacidade de promover as diferentes técnicas de ventilação como controlada a volume ou pressão em equipamentos que possam mensurar o volume adequado e pressão, para evitar volutrauma ou barotrauma.
Como pode se observar, a anestesia veterinária tem adquirido alguns aprimoramentos como:
São eles:
- conhecimento mais aprofundado;
- utilização de monitores multiparâmetros;
- analisador de gases;
- ventiladores;
- bombas de infusão;
- auxiliares de execução de bloqueios periféricos como ultrassom e localizadores de nervos periféricos.
Além, é claro, do constante aperfeiçoamento do profissional, que deve estar ciente de tantas oportunidades de aprendizado disponíveis atualmente.
Para finalizar, ressaltando a importância desta decisão durante a anestesiologia, nunca deve-se negligenciar a avaliação da analgesia durante a recuperação anestésica e no período pós-operatório, tendo em mente que atualmente as escalas para tal avaliação são validadas para diferentes línguas e culturas, e podem auxiliar a tomada de decisões.
Devemos ressaltar que muitas escalas e ferramentas estão disponíveis, inclusive, em aplicativos a serem instalados em equipamentos móveis. Uma delas é o Vetpain, desenvolvido por professores e pós graduandos da Universidade de Botucatu. Neste aplicativo o escore de dor pode ser obtido com rapidez e confiabilidade em diversas espécies animais.
O período pós-operatório exige essa dedicação, além de manter a monitoração, pois a mortalidade pode aumentar no momento em que o paciente sai do centro cirúrgico onde encontrava-se com assistência ventilatória, monitoração e presença de equipe multidisciplinar.
Essa é a forma de encarar o que a anestesiologia moderna exige: dedicação, monitoração, métodos de prover ventilação controlada, métodos modernos de anestesia loco-regional, avaliação do bem-estar e monitoração pós operatória.
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